segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Pombagira l


POMBAGIRA DE UMBANDA
Na Umbanda, a entidade espiritual que se manifesta incorporada em suas médiuns está fundamentada num arquétipo desenvolvido à partir da entidade Bombogira, originária do culto Angola.
Nos cultos tradicionais oriundos da Nigéria não havia a entidade Pombagira ou um Orixá que a fundamentasse.
Mas, quando da vinda dos nigerianos para o Brasil (isto por volta de 1800), estes aqui encontram-se com outros povos e culturas religiosas e assimilam a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente, conquistou o respeito dos adoradores dos Orixás.
Com o passar do tempo a formosa e provocativa Bombogira conquistou um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Feminino ou de mulher dele.
Mas ela, marota e astuta como só ela é, foi logo dizendo que era mulher de sete exus, uma para cada dia da semana, e, com isso, garantiu sua condição de superioridade e de independência.
Na verdade, num tempo em que as mulheres eram tratadas como inferiores aos homens e eram vítimas de maus tratos por parte dos seus companheiros, que só as queriam para lavar, passar, cozinhar e cuidar dos filhos, eis que uma entidade feminina baixava e extravasava o ‘eu interior’ feminino reprimido à força e dava vazão à sensualidade e à feminilidade subjugadoras do machismo, até dos mais inveterados machistas.
Pombagira foi logo no início de sua incorporação dizendo ao que viera e construiu um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo ostentado por Exu e por todos os homens, vaidosos de sua força e poder sobre as mulheres.
Pombagira construiu o arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal e liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desbocada, sensual e libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam que todos os espíritos tinham que ser certinhos e incorporarem de forma sisuda, respeitável e aceitável pelas pessoas e por membros de uma sociedade repressora da feminilidade.
Ela foi logo se apresentando como a “moça” da rua, apreciadora de um bom champagne e de uma saborosa cigarrilha, de batom e de lenços vermelhos provocantes.
“O batom realça os meus lábios, o rouge e os pós ressaltam minha condição de mulher livre e liberada de convenções sociais”.
Escrachada e provocativa, ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua, à rameira oferecida , e ela não só não foi contra essa associação como até confirmou: “É isso mesmo”!
E todos se quedaram diante dela, de sua beleza, feminilidade e liberalidade, e como que encantados por sua força, conseguiram abrir-lhe o íntimo e confessarem-lhe que eram infelizes porque não tinham coragem de ser como elas.
Aí punham para fora seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tristezas e ressentimentos com os do sexo oposto.
E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz.
Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades.
Quem não iria admirar e amar arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?
Pombagira é isto. É um dos mistérios do nosso divino criador que rege sobre a sexualidade feminina. Critiquem-na os que se sentirem ofendidos com seu poderoso charme e poder de fascinação.
Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é liberador da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a mulher é vista e tida para a cama e a mesa.
Mas ela foi logo dizendo: “Cama, só para o meu deleite e mesa, só se for regada a muito champagne e dos bons!
Com isso feito, críticas contrárias à parte, o fato é que o arquétipo se impôs e muita gente já foi auxiliada pelas “Moças da Rua”, as companheiras de Exu.
A espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou à todos que não estava fechada para ninguém e que, tac como Cristo havia feito, também acolheria a mulher infiel, mal amada, frustrada e decepcionada com o sexo oposto e não encobriria com uma suposta religiosidade a hipocrisia das pessoas que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo é de tudo o que a Pombagira representa com seu poderoso arquétipo.
Aos hipócritas e aos falsos puritanos, pombagira mostra-lhes que, no íntimo, ela é a mulher de seus sonhos... ou pesadelos, provocando-o e desmascarando seu falso moralismo, seu pudor e seu constrangimento diante de algo que o assusta e o ameaça em sua posição de dominador.
Esse arquétipo forte e poderoso já pôs por terra muito falso moralismo, libertando muitas pessoas que, se Freud tivesse conhecido, não teria sido tão atormentado com suas descobertas sobre a personalidade oculta dos seres humanos.
Mas para azar dele e sorte nossa, a Umbanda tem nas suas Pombagiras, ótimas psicólogas que, logo de cara, vão dando o diagnóstico e receitando os procedimentos para a cura das repressões e depressões íntimas.
Afinal, em se tratando de coisas íntimas e de intimidades, nesse campo ela é mestra e tem muito a nos ensinar.
Seus nomes, quando se apresentam, são simbólicos ou alusivos.

- Pombagira das Sete Encruzilhadas;
- Pombagira das Sete Praias;
- Pombagira das Sete Coroas;
- Pombagira das Sete Saias;
- Pombagira Dama da Noite;
- Pombagira Maria Molambo;
- Pombagira Maria Padilha;
- Pombagira das Almas;
- Pombagira dos Sete Véus;
- Pombagira Cigana; etc.

O simbolismo é típico da Umbanda porque na África, ele não existia e o seu arquétipo anterior era o de uma entidade feminina que iludia as pessoas e as levavam à perdição. Já na Umbanda, é o espírito que “baixa” em seu médium e, entre um gole de champagne e uma baforada de cigarrilha, orienta e ajuda a todos os que as respeitam e as amam, confiando-lhes seus segredos e suas necessidades. São ótimas psicólogas. E que psicólogas! “Salve as Moças da Rua”!



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Esse é um blog feito para quem tem fé na umbanda,e quer aprender um pouquinho mais sobre essa religião. Salve Iansã, Orixá dos ventos. Rainha das tempestades. Mãe que afugenta para bem longe os que nos querem fazer mal. Deusa guerreira e corajosa, que defende seus filhos com a espada de cobre. Mãe da alegria e do bom viver, que teus ventos abra meus Caminhos, encoraje minha Alma e alegre meu coração. Ê PARREIA OYÁ!